Naquela virada de ano, o relógio da praça estava quebrado.
Os ponteiros pararam às 23:47, mas ninguém parecia se importar. As pessoas se reuniam com copos na mão, vestidos claros e esperanças discretas. Era curioso: mesmo sem a confirmação do tempo, todos sabiam que algo estava prestes a mudar.
Dona Lúcia levou uma cadeira de casa e sentou perto da fonte. Disse que não confiava mais em fogos para marcar começos — preferia ouvir o próprio coração. Um casal recém-conhecido dividia uvas, rindo de um futuro ainda sem promessas. Uma criança perguntava se o Ano Novo também precisava descansar antes de chegar.
Quando o céu finalmente se iluminou, alguém gritou “Feliz Ano Novo!”, sem saber se era a hora certa. E foi.
Abraços aconteceram meio tortos, pedidos foram feitos em silêncio, e algumas despedidas antigas encontraram coragem para ir embora. O tempo, respeitoso, voltou a andar.
No dia seguinte, o relógio da praça foi consertado. Mas quem esteve ali naquela noite sabia: o Ano Novo não chegou quando deu meia-noite.
Chegou quando alguém decidiu recomeçar. ✨