
Na véspera de Natal, a velha lata vermelha repousava sobre a mesa da cozinha, com a tampa torta e desenhos dourados já meio apagados pelo tempo. Dentro dela, sobrava apenas um único biscoito amanteigado, levemente quebrado numa ponta.
Clara passou os dedos pela lata ao abrir. Aquele biscoito não era só um doce — era memória. Tinha o cheiro das tardes com a avó, o som do forno antigo e o riso espalhado pela casa pequena.
Naquele ano, a ceia seria simples. Pouca comida, poucas luzes, mas muitos silêncios. Clara pensou em guardar o biscoito para si, como quem guarda um pedaço do passado.
Mas então ouviu passos leves. Seu irmão mais novo apareceu na porta, olhos cansados, segurando um desenho torto de árvore de Natal.
Sem dizer nada, Clara partiu o biscoito ao meio. Metade para ela, metade para ele.
Ao morder, percebeu que o sabor não vinha só da manteiga e do açúcar, mas do gesto. A lata vermelha continuava vazia, mas a casa, estranhamente, parecia cheia outra vez.
E naquela noite, Clara entendeu: o Natal não acaba quando o último biscoito termina — ele começa quando a gente decide dividir. ✨