Há indícios de que sim, há substâncias químicas em absorventes internos que podem oferecer riscos, inclusive potenciais efeitos sobre a fertilidade — mas não há (ainda) evidência conclusiva de que todos os absorventes causam infertilidade em pessoas saudáveis.
Vou explicar o que se sabe até agora:
O que se descobriu
Metais pesados em absorventes internos
Um estudo recente testou 30 absorventes internos (“tampons”) de 14 marcas diferentes, comprados nos Estados Unidos, Reino Unido e Grécia, e encontrou todos os 16 metais e metaloides pesquisados: arsênico, chumbo, cádmio, etc.
Entre eles, chumbo é especialmente preocupante, porque não há um nível seguro conhecido para exposição prolongada.
Presença de outras substâncias químicas
Compostos chamados endocrine disruptors (desreguladores endócrinos), como ftalatos, PFAS, e VOCs foram encontrados em absorventes, protetores diários etc. Esses compostos interferem no sistema hormonal.
Foi identificado uso de pesticidas (ou resíduos deles) em alguns estudos, como no caso de glyphosate em absorventes/tampons no Reino Unido.
A mucosa vaginal absorve mais
Há consenso científico de que a mucosa vaginal (ou os tecidos genitais internos) são mais permeáveis, o que pode permitir que substâncias químicas, em contato direto, sejam absorvidas mais facilmente do que pela pele comum. Isso levanta preocupação de que metais ou outros químicos presentes no produto possam entrar no organismo.
O que não se sabe ou está incerto
Até o momento, os estudos não demonstraram que os metais ou químicos encontrados nos absorventes necessariamente saem do produto e entram na corrente sanguínea em quantidades que causem dano. Em muitos casos, os estudos mediram presença do químico no produto, mas não testaram a absorção ou efeito a longo prazo no corpo.
Também não há estudos robustos que provem que uso normal (de marcas regulamentadas) de absorventes resulte clinicamente em infertilidade. Ou seja: os indícios são de risco potencial, não de fato comprovado.
Muitas substâncias que aparecem (como pequenas quantidades de metais ou compostos residuais) são bem abaixo dos limites de exposição considerados nocivos em outras vias (como ingestão) — mas o problema é que a via genital pode ter maior absorção, então os limites usados para pele ou alimentação podem não se aplicar diretamente.
ESSES QUÍMICOS PODEM CAUSAR CÂNCER E OUTRAS DOENÇAS?
Sim — várias das substâncias químicas detectadas em produtos menstruais (PFAS, alguns ftalatos e outros desreguladores endócrinos, certos metais pesados e pesticidas) estão associadas na literatura a câncer e a outras doenças (problemas reprodutivos, alteração hormonal, efeitos no fígado, sistema imune etc.). Porém a evidência não prova que o uso normal de absorventes causa essas doenças — os estudos geralmente encontram os químicos nos produtos ou associam a exposição a esses químicos por outras vias; faltam dados robustos que mostrem exatamente quanto desses químicos passa para o corpo quando usados como absorventes e qual é o risco clínico resultante a longo prazo.
O que a ciência diz (resumido com evidência)
PFAS (“forever chemicals”) foram encontrados em alguns pads, liners e produtos reutilizáveis; PFAS estão associados a maior risco de certos cânceres, problemas de fertilidade, alterações hormonais, doença hepática e efeitos imunológicos. A EPA e revisões científicas documentam essas ligações e os riscos de exposição crônica.
Ftalatos e outros desreguladores endócrinos detectados em pads e tampões estão ligados a alterações hormonais e piora da fertilidade em estudos humanos e experimentais.
Metais pesados (chumbo, arsênio, cádmio) foram detectados em tampons em estudos-piloto — metais pesados têm efeitos tóxicos bem conhecidos (neurológicos, renais, reprodutivos) e alguns são relacionados a maior risco de câncer dependendo da exposição. Ainda não se sabe quanta dessas substâncias, se houver, é absorvida pelo corpo a partir do produto menstrual.
Pesticidas (ex.: glyphosate) foram detectados em algumas amostras de produtos — o glyphosate foi classificado pela IARC como “provável cancerígeno” (Group 2A) e há estudos recentes e controvérsias regulatórias sobre seu risco.
O que isso não significa automaticamente
Encontrar uma substância num produto ≠ prova científica de que aquele produto provoca câncer em pessoas que o usam. O risco real depende de quantidade, via de exposição, frequência e tempo. Muitos estudos medem presença no produto mas não a absorção nem o efeito final no organismo.
Como reduzir exposição (prático)
Escolha produtos sem fragrância e sem aditivos anunciados.
Prefira produtos de marcas que publiquem testes independentes ou transparência sobre materiais.
Considere alternativas (copo menstrual de silicone médico, absorventes de pano) — lembrando que estudos também acharam PFAS em alguns reutilizáveis, então verifique transparência do fabricante.