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O QUE SE SABE SOBRE O ESQUEMA QUE LEVOU O DONO DA ULTRAFARMA PARA A PRISÃO?
Por Susi Hellen Spindola
Publicado em 14/08/2025 07:57
Notícia

Como o esquema operava

 

Crédito tributário de ICMS

Empresas como Ultrafarma e Fast Shop tinham direito a pedir ressarcimento de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) quando pagavam imposto em excesso, mas esse processo é burocrático e demorado. 

 

 

Auditor fiscal como “cérebro”

O auditor estadual Artur Gomes da Silva Neto, funcionário da Sefaz-SP, atuava diretamente nesse processo. Ele acelerava a liberação dos créditos — em prazos reduzidos, sem revisão e até autorizando valores além do devido. 

 

 

Empresa de fachada

Para receber as propinas, Artur criou a empresa “Smart Tax Consultoria”, registrada no nome de sua mãe. Até meados de 2021, essa empresa era inativa. Mas a partir do segundo semestre daquele ano, passou a receber pagamentos milionários da Fast Shop e Ultrafarma — mais de R$ 1 bilhão entre 2021 e 2023. 

 

 

Certificado digital

O auditor chegou a usar o certificado digital da Ultrafarma para protocolar pedidos diretamente no sistema da Sefaz, integrando-se perfeitamente ao mecanismo de fraude. 

 

 

Propinas em troca de facilidades

Em troca, Artur recebia grandes somas via Smart Tax (empresa de fachada) — enriquecendo estrondosamente sua família, já que a mãe viu seu patrimônio saltar de cerca de R$ 400 mil para R$ 2 bilhões em apenas dois anos.

 

O que garantiu o sucesso do esquema

 

Controle direto do auditor: ele fazia todo o processo — do pedido à liberação dos créditos — de dentro da Sefaz, sem passar por controles internos.

 

Empresa de fachada para lavagem legal: a Smart Tax emitia notas, recebia os recursos, e fazia repasses por fora.

 

Atuação contínua: o esquema funcionou desde meados de 2021 até a operação desta terça, movimentando mais de R$ 1 bilhão em propinas.

 

 

Por que a prisão chegou agora

 

A investigação avançou após a quebra de sigilo fiscal e telemático do auditor. E-mails internos mostraram claramente a coordenação do esquema 

 

 

 

A prisão foi considerada urgente por causa do risco de influência sobre depoimentos e possível fuga, já que os investigados eram financeiramente influentes.

 

 

COMO O ESQUEMA FOI DESCOBERTO

1. Movimentações financeiras incompatíveis

 

O auditor fiscal Artur Gomes da Silva Neto, funcionário da Sefaz-SP, começou a chamar atenção por movimentações financeiras muito acima da sua renda oficial.

 

Sua mãe, dona da empresa de fachada Smart Tax, também passou a ter crescimento patrimonial explosivo: de cerca de R$ 400 mil para R$ 2 bilhões em dois anos.

 

Isso despertou suspeitas de lavagem de dinheiro e enriquecimento ilícito.

 

2. Denúncias e alertas internos

 

Fontes internas da Secretaria da Fazenda podem ter alertado sobre irregularidades nos processos de liberação de créditos de ICMS, como:

 

Processos tramitando rápido demais;

 

Créditos aprovados sem análise técnica completa;

 

Repetição dos mesmos erros favorecendo as mesmas empresas (Ultrafarma, Fast Shop etc.).

 

3. Quebra de sigilo bancário, fiscal e telemático

O MP obteve autorização judicial para:

  • Quebrar o sigilo fiscal e bancário de Artur, da Smart Tax e de envolvidos.
  • Acessar e-mails, mensagens e registros no sistema da Sefaz-SP.
  • Foi aí que evidências diretas apareceram, como:
  • E-mails trocados entre Artur e empresas como a Ultrafarma;
  • Uso do certificado digital da Ultrafarma pelo próprio auditor para protocolar pedidos;
  • Notas fiscais frias emitidas pela Smart Tax em troca dos "serviços".

4. Rastreamento dos pagamentos e notas frias

 

Descobriu-se que empresas como Ultrafarma e Fast Shop estavam pagando a Smart Tax valores milionários.

 

A Smart Tax, no papel, prestava “consultoria tributária”. Mas:

 

Não havia estrutura para isso;

 

Era registrada em nome da mãe do auditor;

 

Só começou a operar depois que o esquema começou (2021).

 

5. Aprovação anormal de créditos de ICMS

 

A Sefaz tem rotinas internas que registram quem aprovou cada crédito tributário.

 

Foi constatado que o próprio auditor Artur aprovava os pedidos que ele mesmo inseria no sistema, o que é totalmente irregular.

 

Além disso, empresas ligadas ao esquema sempre tinham aprovação muito mais rápida e com valores maiores do que outras na mesma situação.

 

6. Interceptações e gravações

 

Em alguns casos, o MP coletou conversas interceptadas e gravações que mostravam:

 

Coordenação entre Artur e os empresários;

 

Indicações de propina disfarçada de pagamento por “consultoria”;

 

Instruções para evitar fiscalização ou disfarçar os repasses.

 

Resultado: Operação Ícaro

 

Com todas essas provas, o MP-SP, com apoio da Receita Estadual e da Polícia Civil, deflagrou a Operação Ícaro, em 12 de agosto de 2025.

 

 

Foram cumpridos mandados de prisão, busca e apreensão, levando à prisão temporária de Sidney Oliveira, Artur Gomes e outros envolvidos.

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