Hoje, dia 18, marca o 46.º aniversário de um chocante episódio de suicídio em massa em Jonestown, uma comuna localizada na Guiné, em que 918 pessoas morreram na sequência de um ritual liderado pelo líder religioso Jim Jones.
A pedido do norte-americano, adultos, idosos e crianças pertencentes à seita chamada “Templo do Povo” beberam ponche de frutas misturado com veneno. Seus corpos são encontrados por autoridades horrorizadas no dia seguinte.
Apenas 33 pessoas sobreviveram ao massacre, tornando-o o evento americano mais mortal na época sem um desastre natural. Mais tarde, esse recorde terrível seria quebrado no 11 de setembro, quando as Torres Gêmeas foram atacadas pela Al-Qaeda. Lembre-se da tragédia causada por Jim Jones abaixo:
Um desastre humano
Foi uma das cenas mais dantescas do século, famosa por suas atrocidades sem precedentes. Algo terrivelmente explícito e compacto e ainda mais inexplicável do que os desastres mais lembrados porque partiu de civis sem ideologia real.
Nos dias seguintes à noite de 18 de novembro de 1978, fotógrafos e repórteres tiveram que percorrer um tapete de 909 corpos, 304 deles menores, rapidamente inchados e irreconhecíveis pelo calor do verão amazônico. Imagens pobres que dariam a volta ao mundo, impressas a cores nos jornais e na televisão.
O reverendo Jim Jones ordenou que toda a sua comunidade, não muito modestamente chamada de Jonestown, fizesse fila e bebesse um refrigerante em pó tratado com uma mistura de cianeto de potássio e sedativos, colocado em baldes industriais.
E o fizeram, muitos deles voluntariamente, mas outros sob ameaça de segurança armada. Vários corpos apresentavam sinais de tiros e facadas.
“Estou lhe dizendo, não me importa quantos gritos você tenha que ouvir, não importa quanto choro agonizante”, o líder pôde ser ouvido pelo alto-falante. "A morte é um milhão de vezes melhor do que os próximos 10 dias desta vida. Se você soubesse o que está à sua frente... se você soubesse o que está à sua frente, ficaria feliz em partir esta noite."
Pastor progressista
James Warren Jones, mais conhecido como Jim Jones, nasceu em maio de 1931 e desde cedo demonstrou grande interesse pelas obras de Joseph Stalin, Karl Marx, Mao Zedong, Mahatma Gandhi e Adolf Hitler.
Já adulto, declarou-se comunista e lutou ao lado dos afro-americanos contra a segregação e a discriminação racial nos EUA. Jones e sua esposa Marceline adotaram vários filhos negros, algo inédito para uma família branca. Eles se autodenominavam família arco-íris.
Em 1956, Jones inaugurou o Templo do Povo, seita supostamente cristã, em Indiana. Em 1962, citando o medo do apocalipse nuclear, tentou mudar a sede para o Brasil, em Belo Horizonte.
A aventura não durou muito. Jones não falava português e, não conseguindo arrebanhar discípulos. Voltou para os Estados Unidos em 1963. Desta vez, se instalou na Califórnia, centro da indústria cultural e perfeito lugar para se tornar uma celebridade. Foram abertas filiais do Templo em São Fernando, Los Angeles e São Francisco.
Jones foi capaz de ganhar o apoio do público e aproximar-se de figuras políticas progressistas, entre elas a primeira-dama Rosalynn Carter.
Em 1977, chegou a ser comparado com Martin Luther King Jr., Angela Davis e Albert Einstein pelo deputado democrata Willie Brown.
O massacre Jones
tomou a decisão de acabar com tudo após o governo americano bater em sua porta. Em 1978, o congressista dos Estados Unidos Leo Ryan decidiu ir a Jonestown para investigar acusações de abusos de direitos humanos. Junto a uma delegação, negociou a sua entrada em Jonestown em 17 de novembro.
Na tarde seguinte, Ryan e seus parceiros partiram, levando vários membros da seita que decidiram abandoná-la, após muita discussão e acusações internas. Foi atacado por um dos supostos dissidentes no caminho, com uma faca, mas o homem acabou sendo controlado.
Às 17h20, a comitiva toda estava embarcada em dois Cessnas na pista de decolagem próxima ao templo. De dento de um deles, Larry Layton, um membro de alto escalão da seita que havia insistido em acompanhá-los, começou a disparar com uma pistola.
O outro avião foi cercado por membros da guarda de Jim Jones, vindos numa carroça puxada por um trator. Dispararam com escopetas, fuzis e pistolas. Antes das 18h, o congressista Ryan e outros quatro jaziam mortos na pista, com mais 11 feridos.
Suicídio devastador
Uma gravação recuperada pelo FBI mostra os 45 minutos anteriores ao suicídio. Jones diz para os membros do Templo do Povo que a União Soviética não os aceitaria após o assassinato de Ryan.
Em seus últimos dias, Jones havia tentado convencer os soviéticos a aceitar a migração em massa para seu território. Também afirmou que organizações do governo apareceriam em Jonestown e torturariam cada um deles, desde crianças a idosos.
A única solução seria o suicídio revolucionário. “Não tenha medo de morrer”, ele diz na gravação. “Nós não estamos cometendo suicídio; estavam cometendo um ato de suicídio revolucionário em protesto às condições inumanas do mundo.”
As crianças foram as primeiras a beber o refresco em pó da marca Flavor Aid, sabor uva. Levava cerca de 5 minutos para um adulto tombar, dando tempo para serem posicionados de bruços no terreno em volta, as famílias juntas. Quem tentou fugir, foi morto. Apenas 35 sobreviveram, se escondendo até os guardas tomarem o refresco eles próprios.
Jones não bebeu. Seu corpo foi achado em uma cadeira de praia, morto com um tiro na cabeça dado por ele mesmo.