Ouvir rádio

Pausar rádio

Offline
A morte de Senna traumatizou o mundo todo da Fórmula 1 - e em consequência, o número de mortes no automobilismo caiu drasticamente.
Aconteceu...
Publicado em 07/11/2024

 

Só que, ainda assim, o Brasil quase precisou perder outro filho para que a FIA notasse uma debilidade que era ignorada.

 

- Em 2008, Felipe Massa perdeu um campeonato em casa, na última volta do GP do Brasil. Foi doloroso, eu sei, e o cara voltou mordido pro ano seguinte - só que veio com uma carroça.

 

A Ferrari de 09 foi a primeira em muitos anos a não andar na frente.

 

- O que era incomum, claro. Pra você ter uma noção, pelo menos um dos pilotos da equipe italiana esteve no pódio em cinco das primeiras nove corridas de 2008, o que era o normal da Scuderia.

 

No ano seguinte, esse número caiu para dois, um de cada piloto.

 

- O de Kimi Räikkonen veio em Mônaco, depois de conseguir se classificar na primeira fila do ano da equipe. O de Massa, na Alemanha, e foi um pouquinho mais suado: largou em oitavo, chegou em terceiro.

 

 

-E olha, Felipe devia estar com uma saudade de subir ali. Passou a cerimônia todo sorridente, acenando e ainda celebrou a primeira vitória de Mark Webber.

 

Só que acho que teria aproveitado ainda mais se soubesse que, da próxima vez que a F1 subisse ao pódio, ele estaria em coma.

 

-Calma, explico. Foi no sábado da etapa seguinte, na Hungria, durante o treino classificatório.

 

Se você não é entendido, basicamente, esse treino é onde todo mundo sai correndo tentando bater o tempo de volta do outro. É um pegapacapá e tudo o que você precisa saber por agora.

 

- No meio desse pega, no Q2, quem via de casa assistiu ao Massa enfiar o carro no muro em linha reta, sem qualquer motivo aparente.

 

É minha primeira memória com a F1: a família em volta da TV com 1994 na cabeça, vendo Felipe ser levado em meio a um monte de pano pra ambulância.

 

- Mas conforme a transmissão internacional mostrava o replay, a coisa foi ficando bem esquisita. Na telemetria, o que se lia era que Massa estava, sem motivo aparente, afundando o pé no acelerador e no freio ao mesmo tempo.

 

O xeque-mate do que rolou veio na câmera on board.

 

- (Ela meio que mostra a visão do piloto e,) em câmera lenta, se via um ponto preto indo em direção à cabeça dele. Quando retiraram o brasileiro do carro, o estado do capacete deu a certeza do que era o tal pontinho.

 

Era uma mola. Ela se soltou do carro do Rubinho.

 

- O Barrichello estava andando à frente de Massa quando a peça caiu e, devido a alta velocidade de ambos os carros, o impacto da mola, que só pesava algo em torno de 700 ou 800g, foi em torno de 150kg.

 

Imagina um impacto desses na sua cabeça. Só imagina o tamanho da pancada!

 

- E ela ainda o acertou no cantinho da viseira, que é mais fraca que o restante do capacete.

 

Felipe teve uma fratura no osso da face, uma concussão e, como a viseira cedeu, um corte profundo na testa.

 

- Foi levado ao hospital e passou por uma cirurgia muito bem sucedida, obrigada, antes de ser colocado em coma induzido por dois dias. Acordou na segunda-feira.

 

“A última coisa que me lembro é de estar atrás do Rubens no Q2 e depois um vazio”, contou depois de alguns meses.

 

- Felipe voltou a correr já em 2010, mas o alerta acendido pelo acidente não dava pra ser ignorado: peças se soltam e capacetes se arrebentam.

 

E depois de toda a saga para melhorar a segurança no pós-94, não dava pra F1 manter inalterada uma peça que havia se provado falha.

 

- OBS: é importante ressaltar que já em 2009 os capacetes já eram bastante modernos em comparação ao que foram um dia.

 

Mesmo assim, começaram os estudos baseados no acidente do brasileiro que levaram quase uma década.

 

- A  primeira atualização veio onde a mola atingiu Felipe: no alto da viseira. Em 2013, uma faixa de Zylon 

 

- um composto que a F1 já conhecia desde 2001 - foi adicionada na área.

 

O Zylon, então, forneceu um reforço para o ponto onde ela se soltava. Mas o que é que é isso, né?

 

- O Zylon é um polímero que até a NASA usa nos seus balões de superpressão, e na F1, até então, aparecia “somente” na peça que prende as rodas ao restante do carro.

 

O capacete, não dá pra negar, ficou com uma aparência meio remendada, pique Frankenstein - mas foi eficiente.

 

- Só que a viseira, apesar de ser o maior, não tinha sido o único problema: o casco do capacete verde e amarelo de Felipe também teve danos.

 

A mola não chegou a rasgar a camada mais interna dele, o que foi ótimo, mas a parte externa sofreu bastante com a filha da mãe.

 

- Em 2018, portanto, foi lançado o FIA8860-2018, que é o modelo atual dos capacetes da F1. A diferença mais gritante foi o tamanho reduzido da abertura da viseira.

 

É algo que nem sempre notamos, mas comparando com o modelo anterior dá pra ver que o de hoje é menor, mais estreita. 

 

- Mas a mudança maior é invisível aos nossos olhos: por baixo das pinturas coloridas, os capacetes agora são todos revestidos pelo Zylon, que absorve o impacto muito bem.

 

Pra não apelar pro engenheirês, entenda que o capacete é a prova de balas. Esse é o nível de segurança.

 

- Felipe Massa ficou na categoria até 2017, mas não voltou a pilotar como antes. Nunca foi campeão.

 

Desde que se aposentou, o Brasil não tem nenhum piloto no grid - mas nosso legado é tão forte que a memória ainda nos mantém como um dos maiores países da história da Fórmula 1.

 

 

- De Chico Landi pintando uma Ferrari de amarelo a Felipe Massa mudando a estrutura dos capacetes, o Brasil sempre foi parte ativa na história da Fórmula 1.     

 

Comentários