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SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS (SOP)
Espaço Mulher
Publicado em 23/07/2024

 

 

O QUE É A SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS (SOP)?

 

A síndrome dos ovários policísticos (SOP), também chamada de síndrome dos ovários micropolicísticos (SOMP), é uma doença caracterizada pela presença de múltiplos cistos nos ovários, associados à desregulação do ciclo ovulatório e dos hormônios femininos.

Cisto é uma espécie de saco formado por uma fina membrana, contendo líquido ou ar em seu interior. É como aquelas bolhas que surgem na pele após uma queimadura ou no pé após o uso de sapato desconfortável. O cisto é uma estrutura fechada que não tem comunicação direta com o tecido no qual ele está inserido.

Para entender por que surgem vários cistos no ovário é preciso primeiro conhecer o ciclo ovulatório normal. Vamos resumi-lo:

 

CICLO MENSTRUAL NORMAL

 

O ciclo da ovulação ocorre por uma sequência de eventos desencadeados pelo cérebro, ovários e útero, que ocorrem em média uma vez a cada 28 dias (em algumas mulheres este ciclo é maior, em outras, menor). O ciclo ovulatório é controlado basicamente por 4 hormônios, dois deles, FSH e LH, produzidos pela glândula hipófise do cérebro, e outros dois, estrogênio e progesterona, produzidos pelos ovários.

Durante a primeira metade do ciclo, o cérebro produz o hormônio FSH, que estimula o ovário a desenvolver vários folículos (um tipo de cisto). Na presença do FSH, os folículos começam a se desenvolver, crescendo e amadurecendo. Sete dias após o início do ciclo, é possível detectar na ultrassonografia do ovário vários folículos medindo entre 9 e 10 milímetros.

Estes folículos ovarianos começam a produzir estrogênio. Conforme os níveis de estrogênio vão crescendo, um dos folículos se torna dominante, desenvolvendo-se mais rápido que os outros, que param de crescer e começam a involuir. Este folículo dominante é quem liberará o óvulo no momento da ovulação.

O pico na produção de estrogênio ocorre um dia antes da ovulação. No momento de concentração máxima do estrogênio, outro hormônio da hipófise é liberado, o LH. Estamos agora exatamente no meio do ciclo, ao redor do 14º dia em casos de ciclos menstruais de 28 dias. Trinta e seis horas após a liberação do LH, ocorre o rompimento do folículo dominante e a liberação do óvulo.

Após a ovulação, o ovário produz estrógeno e progesterona, que preparam o útero para a implantação e possível gravidez. Se o óvulo não for fecundado, ele é absorvido e a produção de LH, estrogênio e progesterona é interrompida. Sem estes hormônios o útero descama, surgindo assim a menstruação.

Portanto, a menstruação é um sinal que a mulher ovulou, mas não foi fecundada.

 

CICLO MENSTRUAL NA SOP

 

Nas mulheres com SOP, os folículos que surgem devido à ação do FSH são incapazes de crescer até um tamanho que provocaria a ovulação, não havendo, portanto, o desenvolvimento de um folículo dominante. Sem o folículo dominante, não ocorre ovulação nem estímulo para os folículos restantes involuírem, havendo acúmulo progressivo dos mesmos, fato que é responsável pelo aspecto policístico que os ovários adquirem.

A ausência de ovulação e a presença constante de folículos desregula todo o ciclo de produção de FSH, LH, estrogênio e progesterona. A mulher com ovário policístico pode não ovular por vários ciclos, o que é facilmente perceptível pela natureza irregular das suas menstruações.

 

O QUE CAUSA A SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS?

 

Não se sabe bem ao certo o que provoca a SOP. É provável que a mesma seja o resultado da associação de fatores genéticos e factores ambientais. Cerca de 10% das mulheres possuem a síndrome dos ovários policísticos em algum grau.

A influência genética é forte. Mulheres com ovário policístico frequentemente possuem uma mãe ou irmã também com a doença. Pesquisadores ainda estão à procura dos genes responsáveis pela doença.

Um achado muito comum nas mulheres com síndrome dos ovários policísticos é um aumento dos níveis de testosterona, o principal hormônio masculino. Outra alteração comum é a resistência a insulina. A paciente produz insulina normalmente, mas os seus tecidos são resistentes a sua ação, causando uma alteração nos valores de glicose no sangue.

SINTOMAS

 

A síndrome dos ovários policísticos é chamada de síndrome porque possui um conjunto de sinais e sintomas que podem ou não estar presentes. A doença pode ser mais branda em algumas mulheres e mais exuberante em outras.

As principais características da SOP são a menstruação irregular, que é provocada pelos ciclos anovulatórios (ciclos menstruais em que a mulher não ovula), infertilidade, obesidade, aumento dos pelos e acne. Laboratorialmente é comum encontrar níveis elevados de glicose no sangue.

Em cerca de 10% dos casos, a alteração da glicose sanguínea é suficiente para causar diabetes mellitus tipo 2.

Oligomenorreia é um termo médico usado para descrever um ciclo menstrual irregular ou infrequente. Mulheres com oligomenorreia têm períodos menstruais com menos frequência do que o normal, geralmente definido como tendo menos de 8 ciclos por ano ou intervalos entre menstruações superiores a 35 dias. A oligomenorreia é um sintoma comum da SOP.

O excesso de testosterona, chamado de hiperandrogenismo, é responsável por alguns dos sinais e sintomas típicos da síndrome dos ovários policísticos. Hirsutismo é o nome dado à presença de pelos nas mulheres em locais com características masculinas. Os pelos costumam surgir acima do lábio superior, no queixo, ao redor dos mamilos e abaixo do umbigo. As mulheres também podem apresentar uma calvície com padrão masculino. O excesso de hormônios masculinos também é o responsável pelo aumento da oleosidade da pele e surgimento da acne (cravos e espinhas).

Outro achado comum na síndrome dos ovários policísticos é a síndrome metabólica, caracterizada por excesso de peso, resistência à insulina, níveis elevados de colesterol e hipertensão arterial. Pacientes com síndrome metabólica têm maior risco de desenvolver doenças cardiovasculares. Acantose nigricans é o nome que damos ao aumento da pigmentação da pele nas regiões da nuca, dobras cutâneas, articulações ou cotovelos, que se tornam mais escuras. É um achado típico nos pacientes obesos e com resistência à insulina.

A ausência de ovulação e as alterações hormonais da SOP aumentam o risco do desenvolvimento do câncer do endométrio, que é a parede interna que reveste o útero.

 

QUEM TEM OVÁRIOS POLICÍSTICOS PODE ENGRAVIDAR?

 

Pode, mas a dificuldade para engravidar é muito comum nas mulheres com a síndrome. Os frequentes ciclos anovulatórios são a causa dessa dificuldade para engravidar naturalmente.

Existem tratamentos e estratégias de fertilidade que podem ajudar mulheres com SOP a engravidar, como mudanças no estilo de vida (perda de peso, alimentação saudável e exercícios), medicamentos para induzir a ovulação e técnicas de reprodução assistida. Muitas das pacientes com SOP acabam precisando de tratamento para infertilidade para conseguir engravidar.

 

DIAGNÓSTICO

 

O diagnóstico da síndrome dos ovários policísticos é feito com base em um conjunto de critérios clínicos e laboratoriais, conhecidos como os critérios de Rotterdam, que incluem:Irregularidades Menstruais: ciclos anovulatórios ou oligomenorreia (menos de oito ciclos menstruais por ano ou ciclos com duração maior que 35 dias).Hiperandrogenismo: presença de sintomas como acne, hirsutismo (crescimento excessivo de pelos) ou alopecia, ou níveis elevados de andrógenos no sangue.Ovários Policísticos: aparência policística dos ovários ao ultrassom, geralmente definida pela presença de 12 ou mais folículos em cada ovário ou um volume ovariano aumentado (alguns grupos sugerem 20 a 25 folículos em cada ovário como valor de corte mais confiável).

Para o diagnóstico, dois dos três critérios devem estar presentes após a exclusão de outras causas de sintomas semelhantes.

Nas adolescentes, os critérios de Rotterdam são mais falhos, dado que irregularidades menstruais, acne, aumento dos pelos e um ovário com aparência multifolicular são achados comuns nessa faixa etária.

 

Existe algum teste específico para ovários policísticos?

 

Não há um único teste para diagnosticar a síndrome dos ovários policísticos (SOP). O diagnóstico é habitualmente baseado em 4 pilares:Histórico Clínico: discussão dos sintomas, histórico menstrual, ganho de peso, problemas de fertilidade, entre outros.Exame Físico: avaliação de sinais de hiperandrogenismo, como acne e hirsutismo.Exames de Sangue: verificação de níveis hormonais, incluindo hormônios sexuais e, às vezes, testes de resistência à insulina.Ultrassonografia Pélvica: visualização dos ovários para identificar a presença de múltiplos folículos.

Os médicos também precisam excluir outras condições com sintomas semelhantes. Portanto, o diagnóstico da SOP é muitas vezes um diagnóstico de exclusão, após outras causas serem descartadas.

 

TRATAMENTO

 

Não existe cura para a síndrome dos ovários policísticos. Porém, há tratamentos efetivos que conseguem controlar bem os sintomas da doença.

A prática de exercícios físicos e a perda de peso são importantes, pois atuam melhorando a resistência à insulina, reduzem a produção de hormônios masculinos e protegem contra as doenças cardiovasculares.

 

Pílulas anticoncepcionais

 

O tratamento medicamentoso da SOP é geralmente direcionado para os sintomas mais exuberantes. Nas mulheres com hiperandrogenismo, o uso de pílulas anticoncepcionais ajuda a diminuir a produção de hormônios masculinos. O Acetato de ciproterona, hormônio presente na pílula Diane, tem uma boa ação antiandrogênica.

Se não houver resposta esperada após 6 meses de pílula, um diurético chamado espironolactona pode ser usado, por ter também atividade antiandrogênica, principalmente na pele, inibindo o hirsutismo. Outra droga com efeito antiandrogênico que pode ser usada é a Finasterida.

O uso de anticoncepcionais, além da parte estética, também é importante para regularizar o ciclo menstrual, diminuindo os riscos de câncer do endométrio. A pílula também age contra a acne.

 

 

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