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SENADORES DEMOCRATAS DOS EUA ACUSAM TRUMP DE ABUSO DE PODER POR TARIFAS CONTRA BRASIL
Por Susi Hellen Spindola
Publicado em 26/07/2025 07:10
Notícia

Um grupo de 11 senadores democratas dos EUA acusou o presidente Donald Trump de praticar um “grave abuso de poder” ao ameaçar aplicar tarifas de 50% sobre todas as importações brasileiras. Na carta enviada à Casa Branca, os parlamentares alegam que a ação é politicamente motivada e tem como objetivo pressionar o governo brasileiro a encerrar os processos judiciais contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. De acordo com os senadores, a intenção explícita de Trump de interferir no sistema judiciário de um país soberano constitui um precedente arriscado, que pode levar a uma guerra comercial desnecessária e causar danos a empresas e cidadãos de ambos os países.

Leia a íntegra da carta:

Caro presidente Donald Trump,

 

Escrevemos para expressar preocupações significativas sobre o claro abuso de poder inerente à sua recente ameaça de iniciar uma guerra comercial com o Brasil. Os Estados Unidos e o Brasil têm questões comerciais legítimas que devem ser discutidas e negociadas. No entanto, a ameaça de tarifa feita por sua administração claramente não tem esse propósito. Também não se trata de um déficit comercial bilateral, já que os EUA tiveram um superávit de US$ 7,4 bilhões na balança comercial de bens com o Brasil em 2024, e não têm déficit comercial com o Brasil desde 2007.

 

 

 

Em vez disso — como o senhor declara explicitamente em sua carta ao presidente brasileiro Lula da Silva — a ameaça de impor tarifas de 50% sobre todas as importações do Brasil e a ordem para que o Representante Comercial dos EUA inicie uma investigação com base na Seção 301 da Lei de Comércio de 1974 têm como objetivo principal forçar o sistema judiciário independente do Brasil a interromper o processo contra o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro. Interferir no sistema legal de uma nação soberana estabelece um precedente perigoso, provoca uma guerra comercial desnecessária e coloca cidadãos e empresas americanas em risco de retaliação.

 

O sr. Bolsonaro é um cidadão brasileiro sendo processado nos tribunais brasileiros por supostas ações sob a jurisdição deles. Ele é acusado de trabalhar para minar os resultados de uma eleição democrática no Brasil e de tramar um golpe de Estado. Usar todo o peso da economia americana para interferir nesses processos em nome de um amigo é um uso grosseiro do poder, enfraquece a influência dos Estados Unidos no Brasil e pode descarrilar nossos interesses mais amplos na região. O anúncio feito por sua administração em 18 de julho de 2025 de sanções de visto contra autoridades judiciais brasileiras envolvidas no caso do sr. Bolsonaro indica — mais uma vez — a disposição da sua administração em priorizar sua agenda pessoal em detrimento dos interesses do povo americano.

 

Suas ações aumentariam os custos para famílias e empresas americanas. Os americanos importam mais de US$ 40 bilhões anualmente do Brasil, incluindo quase US$ 2 bilhões em café. O comércio entre EUA e Brasil sustenta quase 130 mil empregos nos Estados Unidos, que estão sendo colocados em risco por ameaças de tarifas pesadas. O Brasil também prometeu retaliar, e o senhor se adiantou prometendo retaliar da mesma forma — o que significa que os exportadores americanos sofrerão, e os impostos sobre importações para os americanos subirão além do nível de 50% ameaçado.

 

Uma guerra comercial com o Brasil também tenderá a aproximar o país da República Popular da China (RPC), em um momento em que os EUA precisam combater agressivamente a influência chinesa na América Latina. Empresas estatais e associadas ao Estado chinês estão investindo pesadamente no Brasil, incluindo vários projetos de portos em andamento, e recentemente o China State Railway Group assinou um memorando de entendimento para estudar um projeto de ferrovia transcontinental.

 

 

Essas considerações não são exclusivas ao Brasil. Em toda a América Latina, a RPC está trabalhando para aumentar sua influência por meio de sua Iniciativa do Cinturão e Rota. Estamos preocupados que suas ações para minar um sistema judicial independente apenas aumentem o ceticismo sobre a influência americana em toda a região e forneçam aos funcionários chineses e empresas apoiadas pelo Estado maior credibilidade para sua agenda. A mesma tendência também está ocorrendo no Leste e Sudeste Asiático.

 

 

Os objetivos predominantes dos EUA na América Latina devem ser o fortalecimento de relações econômicas mutuamente benéficas, a promoção de eleições democráticas livres e justas e o combate à influência da RPC. Pedimos que o senhor reconsidere suas ações e priorize os interesses econômicos dos americanos que desejam previsibilidade, não mais uma guerra comercial.

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