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CORPO LIVRE E AUTOACEITAÇÃO
Movimentos de resistência e libertação
Por Susi Hellen Spindola
Publicado em 10/06/2025 08:00 • Atualizado 10/06/2025 22:20
Espaço Mulher

Em um mundo onde corpos são constantemente vigiados, julgados e moldados por padrões inalcançáveis, falar de corpo livre e autoaceitação é, acima de tudo, um ato político.

É desafiar uma lógica que diz quem merece existir plenamente e quem deve se esconder. É resistir. 

O peso dos padrões

Desde cedo, somos ensinados a olhar para nossos corpos com desconfiança.

Revistas, redes sociais, filmes e até conversas cotidianas reforçam que há um “corpo ideal” — magro, jovem, branco, sem marcas, sem dobras, sem "imperfeições".

Essa imposição silenciosa gera sofrimento: inseguranças, distúrbios alimentares, ansiedade, cirurgias desnecessárias, exclusão social.

A pressão estética não afeta apenas a autoestima — ela afeta vidas.

Corpo livre: o que isso significa?

Falar de corpo livre não é defender o abandono do cuidado, mas sim a libertação da opressão estética.

É reconhecer que todos os corpos têm o direito de existir como são, sem precisarem se moldar a uma estética dominante.

É dizer que:

Gordura não é sinônimo de doença.

Rugas não são fracasso.

Cicatrizes, estrias, peles negras, corpos trans, corpos com deficiência — todos têm beleza, dignidade e valor. 

Autoaceitação como resistência

Autoaceitar-se, em um sistema que lucra com sua insatisfação, é revolucionário.

É olhar no espelho e não odiar o reflexo.

É vestir o que se quer, dançar como se sente, ocupar espaços sem pedir desculpas.

A autoaceitação não é fácil — ela é construída. Com tempo, com apoio, com informação. E principalmente, com compaixão.

Movimentos que inspiram

Diversos movimentos vêm ganhando força ao redor do mundo, dando voz a quem por muito tempo foi silenciado:

Body Positivity (Positividade Corporal): propõe que todos os corpos merecem amor e respeito, independentemente de aparência ou funcionalidade.

Body Neutrality: convida à relação mais prática e menos emocional com o corpo — ele não precisa ser “bonito”, apenas ser.

Feminismo interseccional: aponta como raça, classe, gênero e deficiência influenciam na forma como os corpos são tratados.

Ativismo gordo: questiona a gordofobia institucional e o direito de existir sem opressão.

Esses movimentos são faróis em meio à tempestade da cultura da magreza e do padrão hegemônico 

Libertar-se é coletivo

Nenhuma libertação é feita sozinha. Aceitar o próprio corpo passa também por aceitar o corpo do outro, sem julgamentos, sem olhares atravessados.

Criar ambientes seguros, respeitosos e diversos é essencial para que todos possam se sentir livres.

A mudança começa em nós, mas precisa se espalhar: nas conversas, nas redes, nas escolas, nas empresas, nos meios de comunicação.

Para refletir…

- Quantas vezes você já se impediu de fazer algo por causa do seu corpo?

- Quantas vezes você julgou o corpo de alguém — mesmo que em silêncio?

E se, em vez disso, você escolhesse a liberdade?

- Corpo livre não é utopia. É direito. É construção diária. É escolha política. E é, acima de tudo, libertação.

Que a gente possa se olhar com menos censura e mais ternura. E que o amor-próprio não seja exceção, mas regra.

 

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