
Você já ouviu alguém dizer: "Se fulano conseguiu criar um império vendendo chocolate, você também pode!"
Vamos falar sobre a famosa teoria da Cacau Show — e por que ela não é tão simples assim.
A “teoria da Cacau Show” é usada como símbolo da meritocracia no Brasil.
A ideia é simples:
"Fulano começou do nada e ficou milionário. Logo, qualquer um pode!"
Mas essa narrativa ignora fatores importantes. Vamos desconstruir?
Sim, a história do fundador da Cacau Show, Alexandre Costa, é inspiradora.
Ele começou aos 17 anos vendendo chocolates de porta em porta. Com esforço e visão, construiu uma das maiores marcas do Brasil.
Mas... isso é exceção, não regra.
O que não se fala tanto:
Alexandre era filho de uma revendedora de chocolates
Teve acesso a educação
Começou com apoio familiar e capital inicial
Empreendeu nos anos 1980, em um cenário bem diferente do atual
A teoria da Cacau Show ignora contextos:
Educação
Capital
Rede de apoio
Origens sociais
Oportunidades de mercado
Nem todo mundo parte do mesmo ponto — e isso importa (muito).
Quando se diz "basta querer", estamos culpabilizando quem não conseguiu, e não questionando o sistema que dificulta o acesso a crédito, educação e mercado para a maioria da população — especialmente mulheres, pessoas negras e pobres.
Empreendedorismo é importante, sim.
Mas precisamos parar de romantizar o sacrifício extremo, a precarização e a ausência de direitos como se fossem "etapas do sucesso".
6 em cada 10 empresas no Brasil fecham em até 5 anos.
A maioria dos pequenos negócios é criada por necessidade, não por oportunidade.
E não, nem todo mundo vai virar a próxima Cacau Show — e tudo bem.
Valorizar o esforço individual é justo.
Mas ignorar as desigualdades estruturais e vender "histórias de sucesso" como regra é perigoso.
Precisamos de políticas públicas, acesso a crédito e inclusão real — não só histórias inspiradoras.
Resumindo:
A teoria da Cacau Show é sedutora, mas simplista.
Ela serve mais para manter a ideia de meritocracia viva do que para resolver as desigualdades de fato.
Valorize quem empreende.
Apoie pequenos negócios.
Questione narrativas fáceis.
Lute por um país onde todos tenham chance real de prosperar.
E se for comer chocolate... escolha com consciência.