
GURGEL
Fabricante 100% nacional
A Gurgel foi a primeira (e única) montadora brasileira a desenvolver carros com tecnologia completamente nacional — sem depender de matrizes estrangeiras.
Fundador visionário

Foi fundada em 1969 por João Augusto Conrado do Amaral Gurgel, engenheiro formado pelo ITA, que sonhava com um carro 100% brasileiro.
Carros elétricos nos anos 70

Muito antes da tendência atual, a Gurgel lançou, em 1974, o Itaipu E150, um carro 100% elétrico, com autonomia de cerca de 60 km — um feito revolucionário para a época.
Uso de fibra de vidro
Os carros da Gurgel usavam carrocerias de fibra de vidro, o que os tornava mais leves e resistentes à corrosão — ideal para uso fora de estrada e em ambientes litorâneos.
Modelos off-road famosos

O Xavante, depois renomeado para X12, foi um dos modelos mais icônicos da marca. Era um veículo leve, robusto e muito utilizado em áreas rurais e praias.
Placas "Gurgel" em vez de chassi tradicional
Os veículos usavam uma estrutura patenteada chamada Plasteel — uma combinação de aço com plástico — que eliminava a necessidade de um chassi tradicional.
Gurgel BR-800: o carro popular

Lançado em 1988, o BR-800 foi o primeiro carro popular brasileiro e contava com um motor bicilíndrico de 800 cm³.
Gurgel esperava que ele se tornasse um carro de massa.
A polêmica com o governo Collor
A Gurgel perdeu incentivos fiscais após a abertura do mercado às montadoras estrangeiras durante o governo Collor, o que impactou diretamente suas vendas.
Fechamento da empresa
Em 1994, após dificuldades financeiras e falta de apoio, a Gurgel decretou falência.
Mesmo assim, seus veículos ainda rodam no Brasil, sendo cultuados por colecionadores.
Legado e colecionadores
Hoje, os carros da Gurgel são itens de colecionador, e há clubes e encontros de entusiastas por todo o Brasil que celebram essa parte única da história automobilística nacional.
Modelos Off-road e Utilitários
Xavante (1969–1975)

Primeiro veículo da Gurgel. Veículo leve e robusto com visual quadrado, voltado para trilhas e estradas difíceis. Baseado no chassi do Fusca.
X12 (1975–1986)

Evolução do Xavante. Um dos mais populares da Gurgel, com carroceria de fibra de vidro e grande sucesso no meio rural e litorâneo.
X15 (1982–1986)

Versão maior do X12, com entre-eixos alongado. Podia ser usado como utilitário e tinha capacidade para mais passageiros ou carga.
Carajás (1985–1990)

SUV com tração traseira e estilo mais moderno. Era oferecido em versões 2x4 e 4x4.
Um dos poucos Gurgel com visual mais refinado.
G800 / G15 (1980s)

Utilitários comerciais, como furgões e picapes, derivados dos modelos maiores da marca, voltados para transporte de cargas leves.
Modelos Urbanos / Carros Populares
BR-800 (1988–1991)

Primeiro carro popular brasileiro. Motor bicilíndrico refrigerado a água (Enertron 800 cm³).
Compacto e econômico, mas criticado pelo desempenho fraco.
Supermini (1992–1994)

Evolução do BR-800, com visual mais moderno, melhorias mecânicas e melhor acabamento.
Ainda usava o motor Enertron.
Modelos Elétricos (projetos experimentais)
Itaipu E150 (1974)
Primeiro carro elétrico brasileiro. Protótipo com autonomia de cerca de 60 km e velocidade limitada. Um marco histórico na mobilidade elétrica.
Itaipu E400 (1981)

Versão elétrica do Gurgel G800, com capacidade para transporte urbano de mercadorias. Produção limitada.
Modelos especiais e protótipos
Motomachine (1983–84)

Microcarro urbano futurista, voltado ao uso individual em grandes cidades. Nunca passou de protótipo/conceito.
Delta / Itaipu II (conceito)
Veículos elétricos com proposta de substituir carros em uso urbano, apresentados no início dos anos 80, mas que não chegaram à produção.
Por que a Gurgel encerrou as atividades?
O fim da única montadora 100 % brasileira não teve uma única causa, mas um conjunto de fatores técnicos, econômicos e políticos que se combinaram no início dos anos 1990. Os principais são:
Cronologia do colapso
Jun 1993:
empresa pede concordata
(proteção judicial contra credores).
1994:
governo nega empréstimo; a fábrica em Rio Claro para em abril; falência é decretada em maio.
Set 1996:
último recurso é negado; atividades encerram‑se definitivamente.
Em números
Produção total estimada: ~30 000 veículos em 27 anos.
Dívida ao falir: ≈ R$ 280 milhões
(valores da época).
O legado
A pesar do fim, a Gurgel deixou contribuições duradouras:
Plasteel
(aço + compósito) – pioneiro em estruturas híbridas.
Enertro
– primeiro motor projetado e feito no Brasil pós‑guerra.
Protótipos elétricos Itaipu
(1974) décadas antes da tendência global.
Hoje, seus carros são peças de coleção e lembram o desafio — ainda atual — de se fazer engenharia automotiva competitiva com capital 100 % nacional.