Iracema Almeida
Nascida em 1921, em uma família negra de classe média em São Paulo, ela se destacou por ser uma das primeiras mulheres negras a se formar em Medicina no país, além de ter desempenhado um papel fundamental na profissionalização e ascensão social da população negra.
Iracema de Almeida: uma carreira em prol da comunidade
A trajetória de Iracema foi marcada por sua dedicação à medicina e à educação. Formada pela Escola Paulista de Medicina em 1951, Iracema não apenas exerceu sua profissão com excelência, mas também utilizou seus
conhecimentos e recursos para ajudar a comunidade negra. Ela estabeleceu dois consultórios na Vila Prudente, onde atendia tanto pacientes pagantes quanto a população carente gratuitamente. Mais do que apenas uma médica, Iracema se tornou uma defensora dos direitos dos negros, utilizando sua posição para abrir portas que antes estavam fechadas para a maioria.
O despertar para a luta pela educação
A motivação de Iracema para se dedicar à educação dos negros surgiu de uma experiência pessoal. Em uma ocasião, ela foi impedida de entrar em um prédio pela porta principal por ser negra, sendo direcionada à porta de serviço. Esse episódio foi um divisor de águas para ela, que decidiu que iria lutar para que mais negros ocupassem posições de destaque na sociedade.
Iracema então se juntou ao Grupo de Trabalho de Profissionais Liberais e Universitários Negros (GTPLUN), onde atuou como presidente. Sob sua liderança, o grupo ofereceu diversas formações para a população negra, visando aumentar a presença de negros em escolas, universidades e órgãos públicos. Seu lema era claro: “uma sobe e puxa a outra”, refletindo seu compromisso em criar oportunidades para outros negros.
Desafios e alinhamento político
Durante a ditadura militar, Iracema e o GTPLUN adotaram uma postura de alinhamento com o regime, uma estratégia controversa que gerou críticas, mas que também permitiu ao grupo continuar seu trabalho em um período de repressão. Em 1968, Iracema chegou a se candidatar a vereadora pelo partido Aliança Renovadora Nacional (Arena), mas sua candidatura foi impugnada por razões desconhecidas.
Apesar das críticas, é inegável que Iracema conseguiu abrir caminhos importantes para a população negra, utilizando os recursos e a influência que tinha para beneficiar sua comunidade.
Legado na saúde e na educação
Nos anos 1980, Iracema se dedicou ao estudo da anemia falciforme, uma doença que afeta predominantemente a população negra. Ela foi pioneira na pesquisa e no tratamento da doença no Brasil, trazendo conhecimento e protocolos de tratamento que ajudaram a salvar inúmeras vidas.
Seu legado, no entanto, vai além da medicina. Iracema foi uma das primeiras a entender a importância da educação como ferramenta de empoderamento para a população negra. Seu trabalho inspirou gerações e ajudou a moldar o movimento negro no Brasil.“Dizemos com muito orgulho e responsabilidade: nós somos brasileiros vivos. Não queremos mais, queremos o igual”, disse Iracema em um discurso em 1976. Suas palavras continuam a inspirar e guiar aqueles que lutam por um Brasil mais justo e igualitário.