Às quintas, trazemos uma personalidade que tenha feito história no mundo, e hoje trouxemos
Mahatma Gandhi
O líder e pacifista indiano Mahatma Gandhi (1869-1948) está no imaginário das pessoas como uma espécie de semideus ou profeta da paz.
Um dos maiores nomes indianos de toda a história, o homem que lutou pela independência do país teve uma trajetória de vida interessante e cheia de fatos interessantes. Neste artigo vamos conhecer os 10 momentos mais importantes da biografia de Mahatma Gandhi.
1. Gandhi nasceu em uma família de casta simples
Era 02 de outubro de 1869 quando Mohandas Karamchand Gandhi veio ao mundo, na cidade indiana Porbandar, atual estado de Gujarat. Seu pai era primeiro-ministro de uma pequena cidade e a mãe uma devota vigorosa de Vishnu, um dos deuses hindus.
Na Índia, as famílias hindus são divididas por castas, com funções sociais específicas. A família de Gandhi era da
casta dos vaixás, ou seja, os comerciantes, considerada uma casta mais simplória, em comparação com os chamados brâmanes (sacerdotes e letrados) e xátrias (guerreiros). Apesar disso, a família dele não era pobre e vivia confortavelmente.
2. Aos 13 anos, teve um casamento arranjado com Kasturb Gandhi
Como é comum na cultura indiana, quando completou 13 anos Gandhi teve seu casamento arranjado com uma mulher apenas seis meses mais velha, chamada Kasturb. Era maio de 1883 quando o acordo entre famílias foi firmado e ambos permaneceram casados por 62 anos, tendo Kasturb participado ativamente da vida política empreendida pelo marido anos mais tarde.
3. Gandhi parte para Londres para estudar direito
O ano era 1886 e a Índia estava sob o poder dos britânicos. A família de Mohandas decidiu que ele deveria viajar até Londres para estudar direito. Era comum os filhos de famílias mais abastadas irem estudar fora, na capital da metrópole, pois a colônia em si não tinha boa estrutura educacional.
O garoto ingressou na University College of London e, na faculdade, teve contato com a filosofia de Henry Stephens Salt, e organizou um clube vegetariano que, entre outras coisas, debatia assuntos teosóficos. Também foi lá que teve o primeiro contato com o que viria a ser sua bíblia espiritual: o Bhagavad-Gita, texto religioso que retrata um diálogo de Krishna com um guerreiro.
4. A volta para a cidade de Porbandar
Em 1891, Mohandas tinha 22 anos, uma formação em direito e sede de recomeçar a vida em sua cidade natal. No entanto, ao voltar para lá, a sua carreira como advogado não deslanchou (um dos motivos, aparentemente, era a sua timidez ao se expressar), e a sua mãe havia acabado de falecer. Nada estava indo bem.
Apesar de já ter com Kasturb dois filhos, chamado Harilal e Manilal, Mohandas recebeu o convite para trabalhar na África do Sul e resolveu aceitar. Era o ano de 1893, e ele estava dando início a uma mudança radical na sua vida.
5. A chegada na África do Sul e o Congresso Indiano
Ao chegar ao país africano, Mohandas deparou-se com um sistema racista e violento. Negros, indianos e muçulmanos eram discriminados de todas as formas possíveis pelos britânicos e holandeses, à época governantes de vários estados sul-africanos.
Foi para ele um despertar de consciência social que culminou na criação de uma organização social e política liderada por ele que buscava, em primeira instância, evitar que o governo dos brancos no país tirassem direitos básicos dos indianos, principalmente hindus.
6. Nasce a filosofia da não-violência, Satyagraha, a força da verdade.
Depois de se envolver politicamente pelos direitos dos hindus na África do Sul, o jovem Gandhi decidiu mudar-se para lá com a esposa e os filhos. Começou a atrair notoriedade da imprensa e governantes, que queriam parar a sua luta.
Foi durante a Segunda Guerra Bôer que Gandhi desenvolveu a técnica de Satyagraha, que prezava pela luta pelos direitos sem o uso de violência, apenas com base em desobediência civil e palavras. Leituras de Tolstoi e Thoreau, seus ídolos, impulsionaram o pacifista em suas ideias de amor universal.
7. Como Gandhi consquistou o título de Mahatma
Depois de 20 anos lutando pelo direito dos indianos na África do Sul, sendo preso várias vezes e, finalmente, conseguindo a revogação da lei que discriminava o seu povo (chamada "ato negro"), Gandhi, agora com 45 anos de idade, decidiu voltar à Índia.
A essa altura ele já era visto como um líder popular, política e espiritual. Foi assim que passou a ser tratado como Mahatma, uma alcunha que significa grande alma, criada por Rabindranath Tagore, poeta, romancista, dramaturgo, que fez várias reformas culturais na Índia daquela época.
8. A marcha do Sal
O ano era 1930 e Gandhi já estava há 15 anos lutando pela independência indiana do governo exploratório dos britânicos. Greves gerais, boicotes e atos pacifistas liderados ou inspirados por sua figura se espalhavam pelo país, conquistando direitos e enfraquecendo o domínio colonial.
Uma das proibições impostas pelos britânicos era que os indianos, hindus e muçulmanos, não poderiam produzir seu próprio sal, que eram comercializados a custo de altos impostos para a população. Foi então que Gandhi teve a ideia de marchar 200 quilômetros para protestar contra tal abuso. No começo da marcha tinha menos de 100 pessoas acompanhando-o, mas ao final de quase um mês uniu mais de 5 mil pessoas que chegaram ao litoral do oceano índico para produzir sal com a água do mar.
Depois de muita luta e prisões arbitrárias, a lei do sal foi revogada e os indianos conquistaram mais esse importante passo rumo à independência.
9. A união de Muçulmanos e Hindus pelas greves de fome de Gandhi
Uma das formas que Gandhi tinha para tentar forçar o diálogo entre religiões era fazendo jejuns, que o poderiam tê-lo levado à morte, se não fossem grupos com diferenças crenças unindo-se em nome de sua saúde.
A primeira greve de fome e sede que fez foi contra a formação de um eleitorado separado para os "shudras", casta indiana considerada intocável, impura, inferior a todas. E conseguiu que tal grupo social pudesse votar como todos os outros.
Infelizmente, a ambição de Gandhi de unir a nação indiana em uma só não foi de todo possível, o que culminou na criação do Paquistão em 1948.
10. A morte de Mahatma Gandhi
Após o fim da Segunda Guerra Mundial, com a Inglaterra enfraquecida, e os indianos cada vez mais convencidos de que tinham que governar o seu país, finalmente foi declarada a independência indiana, com a nomeação de Jawaharlal Nehru, amigo de Gandhi, como primeiro-ministro e maior líder político do país.
O clima político, no entanto, não era amigável e, com a separação da Índia em duas nações, uma muçulmana e outra hindu, houve quem acusasse Gandhi de enfraquecer o poder dos hindus com os seus protestos por paz e união.
O primeiro atentado contra sua vida ocorreu no dia 20 de janeiro de 1948, através de uma bomba jogada em sua direção, mas que não machucou ninguém. Dez dia depois, no entanto, ele foi assassinado a tiros por um hindu radical chamado Nathuram Godse.
Extras:
De racista a abusador: as acusações feitas sobre a vida de Gandhi
Em uma sala no último andar da residência, onde o colchão e os sapatos do homem ainda estavam, Martin Luther King Jr. disse que ainda podia "sentir as vibrações de Gandhi". Conforme o curador Usah Thakkar, em uma matéria do NPR, o ativista estava hospedado em um hotel ótimo, mas se recusou a ir para qualquer outro lugar. “Vou ficar aqui, porque estou sentindo as vibrações de Gandhi”, disse ele.
Quem poderia imaginar que, seis décadas mais tarde, o próprio movimento negro alavancado por King, começaria a expor a vida racista de Gandhi, em meio a tudo o que acontecia por trás de sua faceta espiritualizada e política.
Em 1903, durante sua passagem pela África do Sul, o líder escreveu que os brancos deveriam ser "a raça predominante", adicionando também que o povo negro era problemático, sujo, e vivia como animais.
“Gandhi, quando jovem, simpatizou com as ideias de sua cultura e tempo. Aos 20 anos, ele pensava que os europeus eram o povo mais civilizado, e que os indianos eram quase tanto quanto, enquanto os africanos eram como bichos”, declarou o biógrafo Ramachandra Guha, em entrevista à NPR.
Contudo, o escritor ressaltou que Gandhi superou seu racismo de forma bastante decisiva e, durante a maior parte de sua vida como figura pública, ele foi um antirracista, defendendo o fim da discriminação de todos os tipos de raças.
Acusações de abuso
Gandhi também defendeu às mulheres, lutando contra a discriminação de gênero, para isso nomeou mulheres para cargos importantes no partido do Congresso, e pediu para que as mulheres na sociedade participassem de protestos e marchas pela liberdade.
Contudo, seu celibato se tornou uma questão tão ameaçadora para ele, que chegou a dormir nu ao lado de Manu, sua sobrinha menor de idade, para testar seu desejo sexual, aos 70 anos.“Ele queria ter certeza de que não era um predador sexual, mas esses experimentos não podem ser defendidos. Eles foram uma imposição às jovens e um exercício de poder, porque ele era o grande Mahatma”, ressaltou Guha.