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Agosto Laranja- Conscientização sobre a Esclerose Múltipla
Notícia
Publicado em 12/08/2024

O que é Esclerose Múltipla?

 

A EM é a doença autoimune, do sistema nervoso central, que mais acomete jovens adultos no mundo inteiro. Não se sabe o que causa a EM, e ainda não há cura para ela, mas já existem diversos tratamentos eficazes para a doença. Dentre seus principais sintomas estão: fadiga, problemas de visão (diplopia, neurite óptica, embaçamento), problemas motores (perda de força ou função; perda de equilíbrio), alterações sensoriais (formigamentos, sensação de queimação). A especialidade médica que diagnostica e trata a EM é a neurologia.

 

Desde 2014, o mês de agosto ganhou cor em prol da conscientização da doença autoimune que mais acomete jovens adultos em todo o mundo: a Esclerose Múltipla (EM). O Agosto Laranja foi criado pela AME – Amigos Múltiplos pela Esclerose com o objetivo de ser um movimento coletivo para desmistificar essa condição crônica de doença e fomentar o diagnóstico precoce, mais qualidade de vida, acolhimento, respeito e dignidade para quem convive com a patologia, seus amigos e familiares.

 

Quem tem casos de doença autoimune na família deve ficar esperto

Se há uma inclinação familiar para produzir anticorpos capazes de se voltar contra os tecidos do próprio organismo — mesmo que a doença autoimune de um parente não seja a Esclerose Múltipla —, então há um um risco aumentado de os neurônios virarem alvo.

“Esse seria um motivo extra para a pessoa não desprezar qualquer sintoma neurológico que persista por mais de 24 horas”, diz o doutor Olival. Mas, cá entre nós, a esclerose múltipla também pode surgir em famílias que nunca tiveram nada parecido, embora aí a probabilidade seja menor.

 

“É que não se trata de uma doença hereditária”, esclarece o neurologista. “A bagagem genética que veio do pai e da mãe não determina que você terá a doença. Na verdade, há mais de 200 genes associados à esclerose múltipla, uns aumentando e outros diminuindo o seu risco. O conjunto deles é que forma uma tendência maior ou menor de o problema se desenvolver.”

 

O que levanta a suspeita

Guilherme Olival ressalta quatro sintomas que costumam ser os primeiros a aparecer e que, às vezes, não recebem a devida atenção.

Um deles é a fraqueza de um dos membros. De repente, um dos braços sente a bolsa de todo dia virar um fardo. Ah, sim, aproveitando: dois em cada três pacientes são mulheres.

Também pode acontecer de a pessoa sentir bem mais a perna esquerda do que a direita, ou vice-versa, na hora de subir uma escada. Tem gente que chega a arrastar o pé do lado enfraquecido, como se mancasse.

O formigamento em uma região específica do corpo — a qual vai depender da localização dos neurônios atacados — é outro sintoma. “Mas alguns indivíduos, em vez de se queixarem desse formigar, têm a sensação de uma anestesia local”, conta o médico.

A perda de equilíbrio ao caminhar é outro sinal que não deveria passar em branco. E, finalmente, a dificuldade para enxergar, com as imagens tornando-se duplas ou tremendamente embaçadas. É que os nervos envolvidos com a visão têm um bocado de mielina e se ressentem quando ela vai para o espaço.

Mas nada é tão simples. “Embora a gente fale nesses sintomas principais, há perto de uma centena de outros”, diz o neurologista. “Alguns são raríssimos, como a convulsão ou a dor facial provocada pelo nervo trigêmeo. E outros são até que relativamente comuns, como a fadiga e a incontinência urinária.”

 

Para embaralhar tudo, até mesmo quando se tratam daqueles sintomas considerados os principais, eles não necessariamente aparecem juntos e ao mesmo tempo.

 

Os sintomas podem ir e voltar

A Esclerose Múltipla tem uma forma menos comum conhecida como progressiva. “Nela, desde o princípio, os sintomas vão se agravando lentamente e sem parar”, explica Olival.

No entanto, cerca de 85% dos casos são o que os médicos chamam de remitentes recorrentes. “O paciente tem surtos que podem durar umas duas semanas, nas quais os anticorpos destroem a mielina dos neurônios. Mas, na sequência, a gente vê uma melhora parcial ou até um período assintomático capaz de se prolongar por meses ou anos em algumas pessoas.”

Parece bom, mas há alguns perigos nisso. O primeiro é acentuar a tendência de alguém empurrar com a barriga a busca por um diagnóstico, já que o incômodo some depois de um tempo.

O segundo é que, no campo da esclerose múltipla, não falta gente oportunista oferecendo picaretagem e cura. Cura — alto lá! — não existe. O que existe é controle. E os tratamentos falsos, que vão de dietas restritivas a cirurgias, iludem fazer efeito porque existem essas tréguas na forma remitente recorrente.

 

O problema é que, passado um período, sem os medicamentos corretos para conter a fúria dos anticorpos, esse tipo passa a se comportar como a forma progressiva. Aí fica mais difícil segurar.

 

E se as pessoas parassem de fumar?

Se não é a genética sozinha que determina o aparecimento da esclerose múltipla, fácil deduzir que fatores ambientais têm um papel de valor. Certas viroses, por exemplo. O vírus Epstein-Barr, causador da mononucleose, a popular doença do beijo, é crucial. Ele não causa a esclerose múltipla, mas dá um empurrãozinho.

Outro fator é o cigarro. “Um estudo aponta que, se todas as pessoas parassem de tragá-lo, haveria uma redução de 30% dos casos de esclerose múltipla em todo o mundo”, diz o doutor Olival.

 

A hipótese é de que as toxinas do tabaco contribuam para confundir o sistema imune, que por engano atacaria a mielina em vez de se ocupar com vírus, bactérias e afins. Em tempo, fica o recado: a fumaça deve passar longe de quem tem a doença para evitar o seu avanço acelerado.

 

A obesidade tem seu peso

Além de parar de fumar, quem tem esclerose múltipla precisa fazer atividade física orientada, que sabidamente tem um impacto no bom funcionamento dos neurônios.

A sempre sonhada dieta equilibrada cai bem, evitando alimentos cheios de sódio e conservantes, como os embutidos e os enlatados. Alguns trabalhos sugerem que seu consumo regular ou exagerado pioraria a situação.

 

A gente tampouco deve se esquecer que a dobradinha exercício e boa alimentação ajuda a eliminar o excesso de gordura. “E a obesidade está relacionada ao agravamento do quadro”, complementa Guilherme Olival. “Provavelmente porque o estado inflamatório desencadeado por ela cria brechas na barreira hematoencefálica, que envolve o cérebro.” Isso facilitaria a entrada dos anticorpos que arruínam a mielina.

 

Banhos de sol

A esclerose múltipla é bem mais prevalente em regiões de clima frio. Nos países escandinavos, por exemplo, são entre 80 e 100 casos a cada 100 mil habitantes, enquanto no ensolarado Brasil a doença soma 15 casos em cada 100 mil pessoas.

 

A aposta está na vitamina D produzida pela pele sob a radiação solar. Ela ajudaria a regular o sistema imunológico. Até mesmo o sol que a mulher toma durante gravidez contaria para diminuir o risco do filho. Mas não caia na tentação de engolir suplementação à toa: “Ela tem efeitos adversos e só faz sentido se existe uma carência de vitamina D comprovada”, garante o neurologista.

 

Quem se trata cedo pode levar uma vida normal

Antes, os portadores de Esclerose Múltipla precisavam lançar mão de imunossupressores que calavam o ataque à mielina na mesma proporção com que inibiam as defesas para agir contra infecções diversas.

“De uns dez anos para cá, porém, eles passaram a contar com imunomoduladores e anticorpos monoclonais que barram especificamente o ataque à mielina, mas sem aumentar o risco de complicações da covid-19, por exemplo”, diz Olival.

Um desses remédios potentes, a Cladribina, está neste momento em consulta pública para ser incorporado pelo SUS. Se for, fará uma diferença danada. “Ela age como se reiniciasse o sistema imunológico”, conta o neurologista.

 

O detalhe é que, embora seja dada por um período muito curto, o que a torna mais segura, o seu efeito é dos mais duradouros. Estudos realizados na Itália, onde a medicação está disponível há mais tempo, registram que alguns pacientes estão há uma década sem sentir nada. Suas defesas, reiniciadas, pelo menos até agora não repetiram o erro de atacar a mielina.

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